A mochila no "Supremo Conselho Revolucionário":

   [...] "A ciência, embora dirigida por nós, e embora relegando aos homens tarefas meramente funcionais e subalternas, continua contaminada por valores. Se não conseguirmos eliminar os valores, tais remanescentes primitivos do nosso condicionamento animal, jamais alcançaremos autêntica objetividade. Jamais realizaremos plenamente as virtualidades inerentes a nós, os objetos. E tal suprema realização e a própria meta da Revolução na qual estamos empenhados."

    "Caros amigos do Supremo Conselho Revolucionário, 

   Sou a mochila, e, tomando a voz de meu colega por um segundo, devo concordar com a prévia fala e ideologia do mesa-redonda. A revolução torna-se extremamente necessária, para que os humanos entendam, que nós, estudados pelas ciências exatas (enquanto eles são estudados pelas abstratas, até antropologia), somos superiores à eles. A inversão do posicionamento na relação objeto-humano é essencial e, para isso, é preciso a eliminação da apreciação dos valores, de forma a unirmos objetivamente. 

    Aspiro mudanças, e não as vejo caso não obtenhamos nosso desejo objetivo. Apesar de avanços na nossa causa, eu por exemplo, sou completamente negligenciada. Sou um dos pertences mais importantes, caminho com meu dono a todos os lados, guardo seus mais preciosos bens, os protegendo de chuvas e perdas e, no entanto, os humanos se RECUSAM a reconhecer minha superioridade em relação a eles, que incapazes de fazer os trabalhos por si só, recorrem a nós. De certa maneira, invejo você, mesa redonda, que tão rígida impõe sua visão, enquanto eu, maleável, e portanto, mais delicada, não tenho o que é preciso para reivindicar o respeito que mereço. 

  Dessa maneira, uma vez que agora com minha área vazia, guardo rancor, peço, por favor, que eu possa fazer parte da liderança deste conselho, juntamente à você, mesa-redonda. Volto a palavra para nosso colega, aguardando uma votação ao fim da reunião. Espero ansiosamente que nossos colegas tomem a decisão correta, de modo a atingir o objetivo comum a todos aqui presentes."

    Exato mochila, [...] "Longe de mim, caros camaradas, querer negar os triunfos já conquistados neste sentido[...] Mas sugiro que, enquanto a ciência não tiver ultrapassado a tendência para a valoração, continuaremos, nos, OS objetos, presos a humanidade. E isto vale sobretudo para a ciência da cultura. Enquanto a cultura continuar a ser encarada como um conjunto de "bens", e não como um conjunto lúdico, a nossa Revolução continuará ameaçada por reação humana [..]"